O Norte se lembra
- marabanews
- 22 de ago. de 2024
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Marabá, querida, que vi crescer e que nos recebeu a mim e meu marido de braços abertos, me recordo de ti com muito orgulho.
Obrigada Marabá, eu te amo.”
Dalva Veloso
A ex-primeira-dama de Marabá, Dalva Furtado Veloso, viúva do médico e ex-prefeito Geraldo Mendes de Castro Veloso, faleceu neste sábado (10), aos 87 anos de idade.

Memórias de Dalva Veloso
As recordações estão dentro do meu sonho, sonho este que guardo daquela época feliz, em que descobria deslumbrada uma vida nova: casada (lua de mel) chegava a Marabá, totalmente desconhecida para mim, no dia 9 de agosto de 1963, num avião da VARIG de prefixo ANU.
Do aeroporto fomos a pé até as canoinhas e, no aterro, o senhor Guido Mutran nos cedeu uma carona em seu caminhão até o hospital da Fundação Sesp, onde meu marido, Geraldo Veloso, trabalhava, na Rua dos Mineiros, hoje Rua 5 de Abril, onde fica atualmente o Hospital Materno Infantil.
A cidade era uma tranquilidade! Apenas quatro carros rodavam em Marabá: um Jeep Land Rover, do nosso inesquecível Dr. Amadeu Vivacqua; uma Chevrolet do senhor Miguel Pernambuco; uma Veraneio de Nagib Mutran, na época prefeito da cidade, e uma Rural Willys, do nosso amigo João Ferreira.
A Praça Duque de Caxias era bonita e bem cuidada, cheia de flores, crianças brincando com seus velocípedes e bicicletas, enfim era uma festa para a gurizada. Não esqueço os jumentinhos carregando água e areias que iam passando pelas ruas tranquilas…
Tudo era novidade para mim, pois nasci no sul da ilha de Marajó, na cidade de Breves, onde o costume é muito diferente. A banana prata para nós, aqui é conhecida como tucum e o taperebá aqui é cajá.
O comércio forte de Marabá era na beira do Rio Tocantins, o famoso Marabazinho. Lá se destacavam as casas comerciais: Casas Pernambucanas, Casa Tibiriçá, Casa Contente, Casa Saliba, Casa Bandeira, Nelito S/A, Bazar Cristal, Casa Saturno, Casa Salomão e outras.
No centro da cidade havia a Casa Belém, Loja N. S. de Nazaré, Casa São José, Sapataria da Rabi (hoje J.P. Silva Calçados), Casa Marabá, Casa São Paulo, Livraria e Tipografia Iris, do nosso inesquecível jornalista João Rocha, Casa Síria (Jamil Gebrim), Armazém Câmara, Casa Xandu e Casa Aurora.
As farmácias eram Santa Luzia do nosso amigo Eduardo Bezerra, Santa Gema, do Sr. Lima, farmácia Salvação, de Tonico Teixeira e Farmácia São Miguel, do amigo José Brasil.
O mercado municipal era a Feira de Marabá, lá tudo se encontrava. No setor hoteleiro dos anos 60, apenas três hotéis serviam a cidade: Hotel de propriedade da dona Zezé, na Praça Duque de Caxias; Hotel de dona Hilda Mutran; e Marabá Hotel, de dona Naide, ambos na Rua 5 de Abril.
Quanto à saúde no município, o Hospital da Fundação Sesp era o único da região e atendia todos os municípios vizinhos. Quatro médicos atendiam nesse hospital: Dr. Veloso, Dr. Linhares, Dr. Régis e Dra. Eimar. As enfermeiras eram duas: dona Orquídea e dona Lucila. O laboratorista era o Sr. Milton Athaide, as atendentes parteiras eram Deney e dona Barbosa.
Além dos médicos do Hospital, tínhamos dois excelentes médicos particulares, que eram os saudosos Dr. Amadeu Vivacqua e Dr. Demóstenes Azevedo. Marabá muito deve a estes profissionais que lutaram pela saúde dos filhos da terra.
Existiam na cidade apenas três igrejas católicas: São Félix de Valois, Capela de Nossa Senhora das Graças, na Santa Rosa, e Capela de São José, no Bairro Amapá. Nossos sacerdotes eram apenas quatro: Padres Cícero, Sebastião, Frei Gil e padre Baltazar, sendo que este último ficou conosco por muito tempo e passou a se chamar Monsenhor.
Igrejas protestantes ou evangélicas havia três na cidade: Assembleia de Deus, Presbiteriana e Batista.
Na educação, o melhor da cidade era o Santa Terezinha, dirigido pelas irmãs Dominicanas e situado nas colinas do Amapá. Lembro aqui as irmãs que passaram por este colégio e que deixaram enormes saudades: Madre Lina, Madre Terezinha, Irmãs Nobertina, Celina, Ana Rita, Theodora, Cristiana, Madalena, Zoé, Diva, Cláudia, entre outras.
Quem não se lembra dos teatrinhos da professora Felipa Serrão? Ela era um orgulho para quem a conheceu e Marabá lhe deve muito. Falando em educadoras, não podemos deixar de mencionar duas professoras excelentes alfabetizadoras: “Santa”, cujo nome era Judith Gomes Leitão e sua irmã Julieta. Elas também alfabetizaram gerações em Marabá, incluindo meus filhos, que hoje são formados.
Cine Marrocos, onde estás? O teu prédio continua lá, deixando aos que te conheceram muita saudade… Eu era assídua frequentadora do matinê, levando os meus filhos, então pequenos, para assistirmos ótimos “bang-bang”, do faroeste americano e outros bons filmes musicais. Que saudade sinto de tudo isso.
Agora vamos falar do carnaval de Marabá que era uma diversão inocente, alegre e divertida. O carnaval de rua era animado pelo conjunto do compadre Manduquinha. Saiam às ruas para brincar nas casas de famílias conhecidas. Os foliões mais animados eram Sr. Maneco, Adelina Marinho, Hiram Bichara, Miguel Pernambuco, Dr. Régis, Jamil Gebrim, Milton Athaide, Celso Leite, compadre Armandinho e tantos outros. Havia uma amizade simples e sincera entre os filhos da terra e os que chegavam aqui.
Não posso esquecer-me da época junina com o famoso boi-bumbá, que andava pelas ruas de Marabá tendo à frente o conhecido Palmica. Vamos lembrar o tacacá da dona Açucena, o mais gostoso da região. Lembro com saudade também o espetinho do Caetano que era uma gostosura! Ah! Marabá, quem te conheceu no passado não te conhece mais!
Onde estão os vai-e-vem de motores cheios de castanhas que faziam a alegria do Marabazinho? Os barcos conhecidos como marabaenses eram destemidos e valentes desafiando a terrível capitariquara e outros como Santa Maria, Itaboca (hoje coberta pela represa de Tucuruí) e Carneirão. Esses barcos iam cheios de castanha levando nossa riqueza, que infelizmente acabou.
Lembro das famílias tradicionais da época que aqui cheguei: Macias, Chuquia, Moraes, Saliba, Holanda, Almeida, Gabi, Pinheiro, Matos, Vivacqua, Gomes, Bandeira, Contente, Zaidan, Morback, Zarlou, Salame, Bezerra, Ferreira, Câmara, Maia, Mutran, Marinho, Vergolino, Maranhão, Leandro, Rodrigues, Bichara, Moussalem, Andrade, Abdelnor, Salomão, Cunha, Braga, Costa, Amaral, Abbade, Gemus, Santis, Leão, Brasil, Sampaio, Amoury, Mathias, Botelho, Jadão, Rocha, Quadro, Malaquias, Azevedo, Solino e Silva.
Zonas do Meretrício eram as famosas Canela Fina, Pau do Urubu, Pau de Arara, Fabrícia Jadão, Magalhães Barata e Pela Pato, esta última no Bairro Santa Rosa, cantada em versos pelo saudoso Alcidinho, que era um esmoler que todos conheciam.
Marabá, querida, que vi crescer e que nos recebeu a mim e meu marido de braços abertos, me recordo de ti com muito orgulho.
Obrigada Marabá, eu te amo.”
Dalva Veloso
(Ulisses Pompeu)
Por Gaspar Henrique
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